Entenda a importância dos absorventes gratuitos
- revistaelas
- 27 de out. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de nov. de 2021
Absorventes são parte importante da vida de muitas pessoas entre a adolescência e boa parte da fase adulta, e mesmo sendo um produto de extrema necessidade, muitos lugares ainda não distribuem de forma gratuita para quem tem baixa renda ou que não tenham fácil acesso ao produto.
Para começarmos a discussão sobre a gratuidade de absorventes, precisamos primeiro saber como foram criados e quais eram as dificuldades que se tinham antes dele ser inventado.
No início do século 20, o que se tem registro, é que se usavam as “toalhinhas”, que eram vários tecidos dobrados em três partes, usados e depois lavados e reutilizados. Em entrevista dada para o site da Superinteressante, o ginecologista Mauro Abi Aidar, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que as toalhinhas não eram tão práticas como os produtos que temos hoje em dia e precisavam ser utilizadas bem secas evitando a umidade que poderia causar inflamações e fungos. (veja mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-inventou-o-absorvente-higienico//)
O primeiro absorvente que se tem notícia, era uma espécie de bandagem para ser colocada sobre a calcinha, e começou a ser vendido em 1890 na Alemanha.
No Brasil o primeiro absorvente descartável foi o Modess, que começou a ser vendido em 1930, e em 1933 surgiu o absorvente interno nos Estados Unidos, que só começaria a ser vendido no Brasil quatro décadas depois.
Como os absorventes impactam o mundo
Hoje mesmo com os vários tipos de absorventes internos, externos, copos menstruais e calcinhas absorventes, ainda temos um grande número da população que não tem acesso a esses produtos com facilidade.
O termo “pobreza menstrual” vem sendo utilizado para descrever pessoas nessas situações, onde não podem pagar por produtos menstruais adequados. Muitas vezes sendo levadas a utilizar papel, papelão, jornal e até mesmo miolo de pão para conter o sangramento.
A Escócia foi o primeiro país a começar a distribuição de absorventes gratuitos. O projeto de lei foi apresentado pela parlamentar Monica Lennon, que fazia campanha para acabar com a pobreza menstrual desde 2016, mas o projeto só foi aprovado em novembro de 2020. Na Escócia, as autoridades devem garantir que os absorventes estejam disponíveis para quem precisar deles.
Além deste país europeu, outros países começaram a adotar medidas que ajudassem a tratar o problema. Na Inglaterra, por exemplo, foram disponibilizados absorventes nas escolas primarias e secundarias.
Enquanto isso, na França, os absorventes passaram a ser gratuitos para estudantes franceses em setembro desse ano. Um estudo realizado pela Associação federativa de estudantes de Poitiers e a Associação Nacional de Estudantes Parteiras, em fevereiro, comprovou que um terço de estudantes precisam de ajuda para comprar a proteção periódica por não terem condições. (veja mais em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/02/23/absorventes-serao-gratuitos-para-as-estudantes-na-franca.ghtml)

Foto: <a href="https://br.freepik.com/fotos/mulher">Mulher foto criado por freepik - br.freepik.com</a>
Como o assunto vem sendo tratado no Brasil
No Brasil, ainda estamos andando a passos largos na questão. O país mantem a cobrança de tributos como o ICMS (de competência estadual) sobre absorventes femininos que são taxados em 25%, variando entre cada estado.
Segundo o IBGE, o número de domicílios chefiados por mulheres só cresceu nos últimos 5 anos, e mesmo assim as cestas básicas que são fornecidas por ONGs ou pelo governo, incluem papel higiênico, mas não absorventes.
Para a moradora de Guaianazes, bairro da Zona Leste de São Paulo, Fátima Campos (47) é um item que não pode faltar. Fatima tem 5 filhos, entre eles duas meninas. “São mais de 30 reais por mês em absorventes, um dinheiro que eu poderia usar em outras coisas. Isso porque eu trabalho e ainda tenho condições de comprar para elas, mas e quem não tem? “
Na última quinta-feira (7) o Presidente Jair Bolsonaro sancionou a criação do Programa de Proteção e Promoção de Saúde Menstrual (Lei 14.214), mas vetou a distribuição gratuita de absorventes femininos para estudantes de baixa renda e pessoas em situação de rua, essa sendo a principal função desse projeto.
Com isso, o alcance da nova lei ficou restrito à criação do Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual, que tem como objetivos combater a precariedade menstrual, oferecer garantia de cuidados básicos de saúde e desenvolver meios para a inclusão das mulheres em ações de proteção à saúde menstrual.
Foi mantida a obrigatoriedade do poder público de promover campanha informativa sobre a saúde menstrual e as suas consequências para a mulher.
A nova lei determina também que o programa seja implementado de forma integrada entre todos os entes federados, mediante atuação, em especial, das áreas de saúde, de assistência social, de educação e de segurança pública. (Veja mais em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/10/07/bolsonaro-veta-distribuicao-de-absorventes-a-estudantes-e-mulheres-pobres)
Enquanto ainda não existem projetos que distribuam absorventes de forma gratuita e facilitem a vida das pessoas que precisam, a estudante Maria Eduarda Poleza (18), moradora de Santa Catarina, lidera uma ação, que doa absorventes para pessoas de baixa renda e moradores de rua.
O projeto se chama Absorvendo Necessidades, atualmente ajuda 84 mulheres. Os kits são montados em sacolas plásticas e contém:
16 absorventes
5 protetores diários
1 rolo de papel higiênico
Maria diz que cada kit custa 5 reais ao projeto para ser montado. “Como compramos em grande quantidade conseguimos preços melhores.” E para quem se interessar em ajudar no projeto basta enviar um PIX para: absorvendonecessidades@gmail.com e seguir o twitter @polezaduda para saber mais informações.
Ainda há um longo caminho pela frente no mundo, e principalmente no Brasil, nas questões que tratam sobre a igualdade menstrual. A menstruação precisa ser tratada como uma política de saúde pública, principalmente para a população de baixa renda.
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